Por que alguém iria querer 12300 toneladas de prata?
Para construir uma bomba atômica!
A prata não faz parte de uma bomba atômica, mas foi necessária durante a Segunda Guerra Mundial, e por um motivo bem específico, para a construção de um gigantesco sistema de calutrons.
Esses calutrons são essencialmente espectrômetros de massa dedicados à separação de isótopos de urânio (separar o U-235 do U-238); estes sim, componentes das primeiras bombas atômicas construídas.
Alpha Calutron
A técnica de separação de isótopos de urânio desenvolvida pelo físico Ernest Orlando Lawrence, durante o Projeto Manhattan, necessitava de uma complicada e gigantesca estrutura, construída na cidade de Oak Ridge, nos EUA, e batizada de planta Y-12.
Só que a construção no complexo em Y-12 enfrentava um problema, a grande quantidade de cobre que seria necessária para manufatura de fiações elétricas. E na época da Segunda Guerra Mundial a possível falta de cobre poderia ser um grave problema estratégico. O que usar então no lugar do cobre? A prata! Um excelente condutor elétrico, mas muito mais caro e de uso restrito que o cobre.
Onde conseguir a enorme quantidade de prata necessária, digamos, as 12300 toneladas para ser mais preciso? Simples, pedir emprestado para quem detém o poder e o dinheiro, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
A tarefa de pedir emprestado ficou para o Coronel Kenneth D. Nichols, que no ano de 1943 fez uma visita ao Subsecretário do Tesouro, na época cargo ocupado por Daniel W. Bell. Ficou então acertado o empréstimo do material, mas só após uma curiosa discussão sobre qual unidade de medida seria mais adequada para representar tamanha quantidade do metal; e também a forma de entrega e transporte.
O empréstimo era com dois Vs, de Vai e Volta. E a promessa foi cumprida após o final da Segunda Guerra com o retorno da prata ao Tesouro, restando apenas 67 toneladas em Y-12, que permaneceram no prédio 9731, com o nobre objetivo de separação de isótopos para uso na medicina e pesquisa científica. Que foi completamente devolvida em 1970.
É bom ressaltar que pela mesma discussão ocorrida entre Nichols e Bell, sobre qual unidade de medida utilizar, temos diversas fontes apresentando diversos valores da quantidade de prata que foi utilizada no projeto; ficamos com as quantidades apresentadas no livro ´The making of the atomic bomb´ de Richard Rhodes.
O vídeo abaixo conta mais alguns detalhes desta história.
(OBS: não possui legendas em português, apenas inglês)
Texto escrito por luisholzle@unipampa.edu.br. Química (Licenciatura) – Universidade Federal do Pampa.