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Chumbo em todo lugar


Bomba de combustível no Museu do Automóvel, em Gramado – Rio Grande do Sul. (Imagem de arquivo pessoal – Licença Creative Commons)
´Somente para uso em motores a combustível – Contém chumbo (tetraetil)´

“Há dois resultados possíveis: se o resultado confirma a hipótese, então você fez uma medição. Se o resultado for contrário à hipótese, então você fez uma descoberta.” Enrico Fermi

Na década de 50, o geoquímicos Clair Patterson trabalhava em pesquisas de datação de rochas, que por meio da investigação da proporção de isótopos de chumbo provenientes do decaimento radioativo do urânio, poderia descobrir a idade do material.

Precisão era uma necessidade no trabalho de Patterson, as medidas deveriam ser feitas de maneira cuidadosa e em equipamentos cada vez mais sensíveis.

Patterson julgava que a tarefa de determinar a proporção isotópica poderia ser relativamente simples. Estava enganado. As medidas sensíveis do equipamento resultavam em concentrações muito mais altas de chumbo do quer o esperado. Os experimentos eram repetidos, imaginando existir algum erro nos procedimentos. Mas os resultados eram os mesmos. O que poderia estar errado?

A única resposta poderia ser: contaminação! Algo no ambiente estava invadindo as amostra e causando os resultados estranhos. Mas o que era?

Patterson percebeu que o chumbo estava em tudo ao seu redor, desde os reagentes usados para dissolver as amostras, nas vidrarias e até na poeira no laboratório. As quantidades de contaminação eram baixas, mas o suficiente para atrapalhar na precisão dos resultados.

O próprio pesquisador precisou desenvolver demoradas metodologias para eliminar todo aquele problema. O que antes pensava ser fácil, mostrou ser algo que consumiria anos de trabalho.

Toda dedicação de Patterson com os níveis de chumbo o fez perceber que era devido à atividade humana, especificamente pelas industriais, por notar que os maiores níveis do metal ocorriam em amostras das últimas centenas de anos. E ainda, que as taxas de chumbo haviam subido dramaticamente nas últimas décadas.

O principal culpado, era um aditivo utilizado para aumentar a octanagem na gasolina, o tetraetil chumbo, em uso desde 1923. Cada um dos canos de descarga espalhava lentamente chumbo por toda a atmosfera terrestre.

Uma ironia nesta descoberta é que o trabalho de Patterson com amostras de sedimento marinho em grande profundidade, fundamentou a percepção da presença constante de chumbo proveniente da poluição. Amostras estas de interesse da indústria petrolífera, que pretendia entender a dinâmica dos sedimentos marinhos e aprimorar a extração do petróleo. A preocupação com a repercução da descoberta fez com que cortassem os recursos repassados para Patterson, e ainda que fizessem pressão para que agências de financiamento de pesquisa fizessem o mesmo.

Felizmente Patterson continuou com suas pesquisas, e foi um dos elementos responsáveis no alerta e perigo da presença constante do chumbo no meio ambiente.

Apesar de tudo, o uso do tetraetil chumbo só teve o seu banimento iniciado em 1976, nos EUA, e só recentemente em 2006 em alguns países. ( https://en.wikipedia.org/wiki/Tetraethyllead#Banning )



Fonte: Nature’s Clocks: How Scientists Measure the Age of Almost Everything Doug Macdougall [livro ainda não disponível em português]

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Texto escrito por luisholzle@unipampa.edu.br. Química (Licenciatura) – Universidade Federal do Pampa.