Canos no chão de um banho Romano localizado na cidade britânica Bath.
O dilema entre preservar o passado e dar chances para a pesquisa científica investigar dúvidas sobre o Universo ocorreu recentemente em uma disputa no uso do antigo chumbo romano.
O Império Romano utilizava grandes quantidades de chumbo, desde a manufatura de tubulação hidráulica até em utensílios de uso diário; e diversas toneladas deste metal eram transportadas em navios – com perda de algumas dessas cargas em naufrágios. Agora, estas cargas naufragadas estão sob a mira de caçadores de tesouros e empresas, que desejam vender a carga de chumbo aos físicos.
Porque físicos teriam interesse específico no chumbo da época dos Romanos? O chumbo minerado atualmente tem um valor de mercado relativamente baixo, e seria muito mais barato do que resgatar reservas arqueológicas submarinas. O “segredo” está no fato do chumbo Romano ter baixos índices de radiação, que não conseguiriam ser obtidos no minério atual, mesmo usando algum trabalhoso procedimento de purificação.
O chumbo minerado possui naturalmente contaminação por urânio 235, que é parcialmente removido durante o refino. Nos processos de decaimento radioativo natural o urânio 235 gera constantemente o isótopo de chumbo 210, que tem meia vida de 22 anos. Portando o chumbo refinado de origem Romana já teve tempo suficiente para minimizar a quantidade do isótopo de chumbo 210, sendo então menos ativo do que o chumbo recém minerado. Além disso, por estar submerso em naufrágios os metal ficou protegido da ação de raios cósmicos por muitos anos, tornando o material ainda mais estável.
Chumbo de origem Romana já foi empregado nos laboratórios de pesquisa física conhecido como ‘Cryogenic Dark Matter Search (CDMS)‘ – de pesquisa sobre matéria escura – e no ‘Cryogenic Underground Observatory for Rare Events‘ – para pesquisas sobre neutrinos.
O tom da discussão entre os arqueólogos e físicos não é de briga, mas de busca de um meio de uso desta preciosa reserva de modo que tal demanda não gere o surgimento de um mercado negro do comércio de chumbo Romano, que acabaria resultando em saques e danos em sítios arqueológicos submersos.
Texto escrito por Prof. Dr. Luís Roberto Brudna Holzle.